terça-feira, 28 de março de 2017

Espanto

A todo o momento temos que aprender palavras novas. Não palavras que já existiam nos dicionários, são palavras novas realmente, que antes não existiam e passaram a existir por conta dos novos tempos, novas tecnologias, maneiras de pensar e se expressar.
Pós-verdade é uma dessas novas palavras. Já absorvemos blogs, face, insta, selfie.
Muitas vezes porém, vamos nos esquecendo de algumas palavras ou lembrando só parte do seu significado.
E é aí que entra a palavra que dá o título a esse texto.
Espanto.
Medo, sobressalto, terror, susto.
Indignação ( inclinada para um certo negativismo ).
A parte esquecida, talvez, seja o maravilhar-se.
Espanto é sinônimo também de maravilhar-se.

Então quero lhes contar uma história de espanto.
Começo a história pelo seu final, pela cena final.

Na rua, na calçada, no passeio público, duas malas escolares esquecidas ( possuem alça e rodinhas ).
Vários metros à frente, um carro freia bruscamente. É uma via de mão única, e no horário escolar, muito movimentada o que impediu uma marcha a ré. Pisca-alerta acionado, a motorista sai em disparada. Posiciona as malas, faz um giro com seu corpo, puxa as alças suspendendo-as e volta em direção ao carro. Corre um tanto descompassada pelo incômodo de puxar ambas malas ao mesmo tempo. Abre o porta-malas e logo sai apressada. É preciso compensar os minutos deixados ali em toda essa manobra.

Começo da história:

No ano passado, durante as saídas matinais com meu cachorro, uma alegre mãe com seu filho, interrompiam por alguns segundos os passos ligeiros para um aceno, uma palavra de carinho dirigida ao peludo.
Não demorou muito para eu saber que ela vinha a pé de outro bairro para levar o filho à escola.
Fiquei indignada com a distância e ela, bem humorada me disse fazer bem caminhar e que gostava.
Tempos depois anunciou-me que se mudaria ali, para bem perto.
Mostrei-lhe o prédio no qual moramos.
Seremos vizinhas de prédio então - ela disse sorridente - e você vai conhecer meu coelho!

Nesses rápidos encontros não era possível se estender. Muitas frases eram ditas já com as pernas em caminhada.
Vieram as férias escolares e nunca mais encontramos a simpática mulher que nem o nome eu sabia.

Certa manhã, eu saí do prédio com o cachorro e dei de cara com ela parada ali rodeada de crianças. Segurava um coelho no colo.
Apenas acenei, pois meu cão começou a latir, sinalizando não ter muita afinidade com coelhos.

Bem, não era um coelho comum, pelo menos dos que eu conheço, de pelo curtinho. Era um coelho parecido com um gato angorá, muito, muito peludo. Uma mescla de cinza e branco que se destacava ainda mais perante o vermelho da coleira. Sim, é um coelho que anda de coleira!

Fiz a volta habitual com meu cachorro e já retornando, mas ainda distante pude vê-la no mesmo lugar, agora com apenas duas crianças a rodear-lhe.

Demorei-me pois o cão vai e volta se enfronhando, parando a cada passo para cheirar.
Nessa demora, vi a cena final acontecendo: as crianças aguardavam a carona ali na calçada.
A mulher com o coelho parecido com uma nuvem fofinha a sestear, causou espanto nas crianças. Ficaram ali a perguntar, a acariciar o animalzinho.
Espanto faz isso mesmo, um encantamento tão arrebatador que malas, mochilas são facilmente esquecidos.

Vi as crianças entrando no carro, o coelho a saltitar de volta para a casa, as malas ficando ali esquecidas.

Sorri. Pensei em recolher as malas e pedir ao porteiro que as guardasse.
Nem foi preciso. Vi o carro parando bruscamente, o pisca-alerta acionado...

Voltei daquela manhã lembrando-me da bela fala, do ensinamento, do sonho de Rubem Alves de que precisamos, sempre vamos precisar, de professores de espanto.

E então, vamos nos espantar mais?!

domingo, 12 de março de 2017

Tag: Apaixonada por fotografia

Vi essa tag lá no blog Fotografei do Lukas e me inspirei a responder também! Assim, dá para contar um pouquinho da minha relação com a fotografia.

1. Com quantos anos você ganhou sua primeira câmera fotográfica?
Uma câmera fotográfica não era um presente que se dava para uma criança ou adolescente da minha época. Tenho 45 anos. Câmeras eram caras e ainda tinha-se que pensar nos custos do filme e da revelação. Muitas vezes um filme ficava por meses dentro da máquina por não haver recursos para mandá-lo ser revelado. Mas isso também gerava agradáveis surpresas - depois de tanto tempo nem se lembrava mais do que poderia haver lá dentro. Então, ir buscar o envelope com as fotografias reveladas era pra lá de especial!

Comprei a minha primeira câmera poucos meses antes do meu filho nascer. Há quinze anos. E não economizei - comprei o modelo mais avançado exposto nas vitrines das lojas de fotografia, geralmente de propriedade dos japoneses. Ah, os japoneses e a fotografia... São os melhores!
Minha câmera de última geração rebobinava automaticamente o filme. Vocês conseguem imaginar o que isto significava? Era o máximo não ter mais que girar uma manivela.

2. Prefere fotografar ou ser fotografado?
Fotografar. Não acho que eu fique bem em fotos, não gosto muito de ser fotografada.
Mas, quero mudar isso.
Há um tempo recebi uma carta ( eu troco correspodências ) em que a garota me contou que não gostava de ser fotografada. Alguém com um projeto fotográfico que visava melhorar a auto-estima, convidou-o para um ensaio e ela amou ser fotografada!
Também guardo na memória uma crônica que li relatando a conversa de um cliente com o motorista de táxi que acabara de perder a esposa e ele mostrou ao cliente uma foto dela dizendo não ser ela. Uma foto da esposa toda produzida, arrumada para uma formatura. E o que ele queria mesmo era um retrato dela no cotidiano, ali no tanque abrindo aquele sorriso ao vê-lo chegando em casa.
É, fotos são mesmo especiais!

3.Você tem uma boa câmera para fotografar?
Sim e não.
Sempre haverá um último modelo lançado, a câmera mais top do mundo e a sua fica parecendo uma formiguinha diante do gigante.
Comparando com o passado, qualquer câmera de hoje é o máximo, principalmente pelo fato de você ver o que fotografou. As nossas pretinhas de antigamente eram pura incógnita; nas mãos de amadores então, o que era o caso da minha família inteira, podemos dizer que de 24 poses, três ou quatro se salvavam.
A tecnologia atual colocou câmeras excelentes nos nossos celulares. O olhar, o exercício do olhar, do reparar é, na minha opinião o que vem primeiro e sim, o equipamento ajuda, principalmente para fotos que requerem algo a mais, por exemplo, a lua, que tem se mostrado exuberante nesses dias, e eu não consigo fotografá-la!
Minha câmera é uma canon rebel T5i. Queria uma câmera com a possibildade de trocar as lentes. Agora a tenho. Só falta ter as lentes!!!

4. Tumblr, We Heart It ou Instagram?
Confesso que só visitei o tumbrl e apesar de ter gostado do visual, não sei usá-lo. Gosto mesmo é do instagram. Prático, visual agradável, interação gostosa entre as pessoas e eu gosto especialmente de ter encontrado blogueiros por lá. É uma extensão dos blogs, boas surpresas!

5. Cite uma pessoa que você se inspira para tirar fotos.
Não tenho uma pessoa. Os blogs com fotografias foram me inspirando, depois veio o instagram, onde há várias pessoas que eu admiro.
Também aprecio o trabalho profissional de dois fotógrafos: Sebastião Salgado - foi numa biblioteca pública que eu encontrei um de seus livros que relatava escolas do mundo. Escolas debaixo de árvores, ocas, esconderijos.
Depois numa livraria encontrei e folheei um livro de fotografia da natureza, com imagens da nossa biodiversidade. Luiz Cláudio Marigo, o autor das fotos. Lembro-me que na época mandei-lhe um e-mail perguntando a dúvida de meus filhos ainda pequenos, como ele tirava fotos de onças tão de pertinho? Recebi uma resposta entusiasmada explicando todo o processo. E tempos depois, diante da televisão, vejo noticiada a sua morte num telejornal. Ele estava num ônibus, nas ruas do Rio de Janeiro, quando sofreu uma parada cardíaca. Com carinho guardo o livro dele que comprei e o e-mail.

6. Você edita suas fotos ou prefere que elas fiquem no modo original? Se sim, qual app, programa você usa?
Não edito. Gosto de fotos sem filtros, sem edições, no original, mas reconheço que por vezes, é sim necessário uma edição e por isso quero aprender.

7. Qual a última foto que você tirou? E a última vez que você foi fotografado por alguém?
Minha filha me filmou num entrevista para a escola semana passada.
E minha última foto foi feita ontem.
Passando pela rua, colhi com o olhar a fotografia e depois voltei lá levando a câmera.
É essa aqui que logo irá para o meu instagram @retrateria



8.Você é daqueles que quer sempre registrar os momentos e o que está ao seu redor, sai sempre com a câmera nas mãos?
Não.
Tenho momentos que saio para fotografar, com essa intenção. E também há ocasiões que não levo a câmera, nem registro pelo celular.
Estou sempre a refletir se é realmente necessário fotografar tudo, se não deixamos passar um olhar, um sorriso, uma ponta de tristeza querendo se mostrar quando nossa preocupação é simplesmente clicar.

9. Uma foto que você tenha tirado e que goste muito.


Anime-se também a responder! Eu vou adorar saber mais da sua relação com as fotos, com as câmeras, as boas histórias, como certa vez, li e me emocionei com uma foto tirada pelo painho de Pandora. Um luxo como ela disse!
E, se responder, vem aqui deixar o link para que mais pessoas conheçam essa história!

Ah! E eu não posso deixar de colocar uma fotografia feita há uns quarenta anos atrás. Espia só e me conta se você já teve uma Mônica de plástico dessas!