quarta-feira, 2 de março de 2016

Um balanço para mim

Finalizei a leitura de um livro e dei especial atenção a uma narrativa onde o pai conduzira a filha para um local para falar-lhe de um assunto extremamente difícil: o porquê dele haver tentado o suicídio por duas vezes.
Embora fosse de um peso, de uma aspereza tal conversa, tudo fluiu com ambos num balanço. A noite era alta e somente eles naquela praça com o balanço a soltar-lhes as angústias, as palavras.
Também me lembrei de Rubem Alves e seu belíssimo livro que traz um balanço dependurado em uma árvore e sua insistência para que houvessem balanços para os adultos, para todas as idades.
Uma forma de voo talvez, ou um acalanto feito cafuné e colo.
Emocionei-me com o livro, com a recordação das palavras de Rubem, mas foi depois, alguns dias, algumas semanas passadas que a emoção veio ainda mais forte.
Eu tive um balanço.
Um balanço só para mim.
Em meio à pobreza e as dificuldades, meu pai construiu-me um balanço. Acho que para dissipar um pouco a tristeza.
Encontramos, eu e minha filha, a fotografia antiga e nela o esmero do seu presente.
Lembrei de ter ido com ele comprar a corda que prenderia o balanço.
Lembrei que tive problemas com o papagaio da vizinha, que devia gostar de crianças e quis-me fazer companhia enquanto eu balançava bem em cima de minha cabeça.
Papai teve que incrementar o seu projeto!
Resgatei o balanço dentro de mim. Para dias difíceis, para noites que se fazem longas, frias, embalo suave a respiração, as recordações, as dores e o dia amanhece. Sempre amanhece.



7 comentários:

  1. Que beleza...
    Eu também tenho nostalgia de balanços. Também tive um, mas não com esse capricho.
    Até hoje gosto de me balancar. O balanço nutre minha alma e alegra o corpo.
    Bjs

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  2. Ana, sempre adorei balanços e fotos com elas me fazem voar sempre, até hoje! Acho um símbolo da infância que não pode ser perdido!

    Adorei tua foto, fico feliz com esse resgate do teu balanço e que bom ter um lugar pra voltar e se embalar quando preciso é!

    Adoro balanços ocupados por crianças e até os vazios, embora esses, me tragam nostalgia! beijos, lindo te ler sempre! chica

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  3. Que bonito!
    Também tive um balanço feito por meu pai, que era serralheiro. Eu já era adulta, porém...
    Adoraria ter um hoje. Um caso a ser pensado...

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  4. Olá, Ana Paula.
    Chego aqui é emoção a saltar da pele. Também eu tive um balanço "arquitetado" por meu pai. Ah! saudade daquela altura da vida em que a gente andava de balanço (aqui é "baloiço").
    Mais tarde, mas agora distante no tempo, também eu "mal-arquitetei" um baloiço em duas vezes distintas, separadas no tempo, para cada uma das filhas. Mas, minha perícia permitia apenas que atasse uma tábua, encontrada em qualquer lugar, a duas cordas muito bem amarradas à árvore de galhos mais grossos do quintal.
    Também elas tiveram seu próprio baloiço.

    bj

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  5. Há livros que nos emocionam e que nos inspiram e nos levam até outras memórias de tempos que passaram e em que éramos felizes. Gostei tanto do texto e da fotografia do baloiço...
    Um beijo.

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  6. Tem coisas que a gente vê e lê e traz recordações.

    bjokas =)

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  7. Eu que estou com o livro do balanço do Rubens em cima da peça da sala e que acho é ganhar asas, sentar no balanço, balançar e os pés do chão tirar, que vejo um, de der testo, não me importando ter quase 40.

    Tive não um meu, feito pra mim.
    Tinha um do tipo outro na frente, pés em cima de uma base, tipo vai e vem na casa de uma tia.

    Enfim, sem fins de lembranças, da criança que fui e sou e amou te ver menina, sorrindo a balançar.

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