segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Primeiro dia de aula


Acordei várias vezes durante a noite. No peito, aquela vontade que o dia logo amanhecesse...
Era a ansiedade do “primeiro dia de aula”.
O relógio despertou com o dia ainda escuro e eu não podia deixar que você, minha filha, percebesse a minha agitação interna.
Banho, café da manhã, uniforme, mochila e partimos.
Meu coração palpitava, quase gritando o meu segredo.
Deixei você em sua nova sala e saí preocupada em dar passos pequenos, lentos, como toda mãe que quer ficar um pouquinho mais perto do filho no primeiro dia de aula.
Acho que você nada percebeu e me acenou sorridente.
Assim que atravessei o portão da escola, desembalei os passos.
Em casa, ainda com o coração num compasso rápido, peguei cuidadosamente “a caixa” e ali deixei a manhã transcorrer sem pressa.




Sabe, filha, eu não sou uma mãe desenhista ou ilustradora. Todas as vezes que você me pergunta se eu sei desenhar eu respondo: nem sequer uma casinha.
Ah! Mas que vontade eu tenho de tentar. Rabiscos simples, nuvem, sol, talvez uma árvore.
Sempre digo também que não tenho tempo para essas coisas, que estou muito ocupada.
Eu estava muito ansiosa para que você saísse para o seu primeiro dia de aula só para brincar de desenhar. Acho até que eu tenho vergonha de fazê-lo na sua frente.
Espero que um dia você me compreenda.
Beijos
Sua mãe

E você tem uma caixinha de lápis de cor aí na sua casa? Você desenha?

domingo, 29 de janeiro de 2012

Transparência


imagem compartilhada no facebook



Algumas pessoas me perguntaram sobre minha ausência nos blogs, meu e dos amigos, se havia algum motivo.
Sim, há um motivo que tem nome e sobrenome: Zona de Convergência do Atlântico Sul.
Esse é o motivo do meu sumiço.
Todo esse nome e sobrenome, traduzido significa que, se você mora em São Paulo, especialmente na capital e adjacências já percebeu que quase não vimos o sol neste janeiro e os dias cinzentos e chuvosos são a maioria. E sem contar que estamos todos vestindo blusas de lã em pleno verão.
As mocinhas do tempo dos programas de telejornais deveriam ser transparentes quando falam da tal zona de convergência.
Poderiam dizer a verdade – se você tem filhos de férias, saiba que choverá tanto, que eles ficarão sem poder colocar o nariz pra fora, o que significa muitas horas no computador ( e nem adiantam as teses de que isto faz mal à criança) e se você é um pai ou mãe blogueiro(a) não vai conseguir chegar nem perto do computador.
Da próxima vez que eu ouvir que estamos sobre a tal influência deste fenômeno meteorológico, já sei bem o que ele significa.
E a sua cidade, está sob influência de algum fenômeno “estraga férias”?!
Beijo

Sendo justa:  escrevi este post sob um céu chuvoso e nublado num sábado. Hoje é domingo e ele apareceu transbordando luz e calor! Fique por favor!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Olha o cafezinho


Marido chega de viagem; demoradamente eu abrando a distância e a saudade e em meio à boa prosa ( porque como é bom prosear com quem se ama!) eu lhe pergunto: como foi o seu café da manhã no avião?
Depois que uma importante companhia aérea tirou uma azeitona de cada um de seus sanduíches, o cardápio servido nos ares tem trazido boas surpresas.
Mas esta foi além de uma boa surpresa.
Café? - disse marido – agora tem que pagar”.
Como assim? Pagar como? Na hora que compra a passagem?”
Não, paga dentro do avião mesmo. Eles passam oferecendo, se você quiser, compra e paga”.
Demorei a acreditar, a entender. No começo achei que fosse brincadeira, mas aos poucos fui me convencendo.
Isso mesmo, na tal companhia de voo doméstico, eles vendem o cafezinho ali, na hora.
Tipo lotação de transporte coletivo?”- eu arrisquei e ouvi um sim.
Viajar de navio, está ficando complicado... de trem, aqui no Brasil, temos a CPTM, e fique atento que os trens andam se encontrando de frente ( ainda bem que a menos de 20km/h... nestas horas é até melhor não termos trem-bala) e agora esta dos aviões. Já pensaram se o piloto coloca o pássaro de metal no automático e sai da cabine gritando: “Olha o cafezinho, tá quentinho!”E atrás vem a aeromoça fazendo o troco?
Quando tiraram a azeitona do sanduíche eu nunca imaginei que chegaríamos a isso...
Mas há o lado bom! Eu vislumbro uma ótima oportunidade de negócio lá na nuvens...
Bem, se eu sumir por uns tempos aqui do blog, é porque fui vender coxinha em algum voo doméstico.
Pra quem já entrou num avião com uma sacola lotada de salames, não custa nada arriscar um pote cheio de douradas coxinhas!
Beijo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Palavrinhas




Não me lembro o que me motivou a comprar um livrinho acompanhado de cartas com pequenas mensagens escritas para a nossa criança interior. A sensação ao reencontrar o tal livrinho foi de alegria.
Então partilho aqui algumas pequenas mensagens:

Raiva

é uma coisa que a gente sente quando as coisas não são como a gente quer. Muita gente acha que a raiva é uma coisa feia, aí elas tentam não ter raiva e ficam com mais raiva ainda e fazem os outros ficarem com raiva também.

Aceite e acolha qualquer sentimento que exista em você.”


Carinho

é aquilo que a gente sente quando encontra um filhote bem pequenininho e quer pegar no colo e apertar bastante. Às vezes, se a gente aperta muito, ele pode ficar sem ar... mas ele gosta mesmo assim!

Expresse o carinho que existe em você.”

Agressão

é quando a gente esquece que o outro é parte da gente, machuca o outro e fica sentindo dor também. Às vezes, a gente machuca a gente mesmo, e aí é o outro, que gosta da gente, que gente dor.

Aprenda a ver o outro como parte de você.”

Saudade

é quando a gente sente uma pessoa dentro da gente; aí lembra que gosta dessa pessoa e fica querendo dizer isso para ela, mas às vezes ela está longe e a gente só pode dizer em pensamento, mas a gente diz, e ela escuta mesmo assim.

Deixe que seus pensamentos levem você até quem você ama.”


Livro: Palavra de Criança de Patrícia Gebrim – 1998.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Árvores da vida


Acordo com um som confuso vindo da rua: vozes, carros, buzinas e o som de um apito que parece soluçar.
Abro a janela e lá embaixo vejo o agente de trânsito agitando rapidamente o braço o que faz com que o som de seu apito saia cadenciado.
Não sei o motivo de tanta inquietação, mas preciso descer para ir até a padaria.
O barulho é pior ali da calçada. A rua da padaria está interditada para carros. Começo a caminhar por ela e logo enxergo o motivo da balbúrdia.
Uma árvore gigante morta ali na rua. Desfalecida sobre uma casa. Sobre fios da rede elétrica. Sobre o caminho de muitos humanos.



Não posso me demorar. Aquela imagem é espantosa.
Levo-a para a mesa do café da manhã.
Um outro som nos adentra – agora é a motosserra.
Ruído este que me faz relembrar uma campanha publicitária da minha adolescência contra o desmatamento. Proteger as árvores, pulmões do mundo”.



Meio do dia e é preciso passar novamente pelo caminho com as crianças. Paramos. Olhamos em silêncio que é quebrado de repente pela pergunta da menina:
Mãe, e se tiver um ninho com ovos ou filhotes?”
Seus olhos estão avermelhados assim como a pontinha de seu nariz. É uma pergunta triste.
Filha, deve haver entre todos esses funcionários alguém para remover cuidadosamente o ninho. Deve haver...”
Cimentamos os pés de nossas árvores, impedimos que a terra se mostre. Talvez exausta de tanta inércia, de tanta indiferença a árvore queira se libertar, queira correr. Está enrijecida.
Ou talvez irada e resolva desabar sobre nossas cabeças, nossas casas, nosso caminho...

Enquanto estou ali parada, ouço uma pessoa tranquilizando os moradores daquela rua. Não há com o que se preocupar, todas as árvores daquela rua serão cortadas e tantas outras também. Estão podres, só servem para causar transtornos.
Será esse o olhar urbano para uma árvore?



Escrevi este texto quando ainda morava nos arrebaldes da avenida Paulista. Foram dois dias de trabalho da motosserra, depois passaram conforme o prometido cortando todas daquela rua.
Leio no jornal que as quedas de árvores causam muitos problemas no trânsito, além disso, a queda de energia traz o risco de morte para pessoas que dependem de aparelhos para sobreviver.

Sempre aprendi que as árvores eram sinônimos de vida. Davam-nos o ar purificado, eram os pulmões do planeta. E agora fico sabendo que elas mesmas representam risco de morte.
Não foi só aquele dia que começou confuso. Eu me sinto confusa.
Será que podemos ligar o planeta à aparelhos que o mantenham vivo, longe das perigosas árvores?    

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Na parede branca


Na parede branca
dedos e mãos
deixam marcas
a julgar pela altura
em que se estamparam
é preciso empregar
o diminutivo:
mãozinha, dedinho

Mãozinhas e dedinhos
que não se diminuíram
em traquinices

Numa geometria
tão apertada
inúmeros passos
inúmeras alegrias
incontáveis risadas
e gargalhadas

A menina-flor
que uma flor ali desenhou
também chorou
e em mil pétalas se desculpou

Olhando para a parede,
que logo será metamorfoseada,
pela branca tinta
não vejo rabisco e sujeira

Vejo a jabuticabeira que não temos
no quintal
Vejo meninos acenando
do alto de um galho
a boca lambuzada de manga
Vejo a menina-flor
num jardim de margaridas
com o amor no coração
brincando de
bem-me-quer, mal-me-quer”
Vejo uma casa avarandada
por onde correm crianças
pés descalços
grito solto

Ouço a corda batendo no chão
e o cabelo amarrado
em laço de fita da menina
dançando feliz no ar

A lata de tinta branca
aguarda:
silenciar todos os retratos ali estampados
ou branquear
para outras travessuras ali brincar?



domingo, 15 de janeiro de 2012

Vou tocar tuba




Não toco nenhum instrumento. Criança ainda, manifestei vontade de tocar piano. Ganhei um violão, mas deve ter sido mesmo a ausência de talento que não me fez tocá-lo, ainda que tentasse, ainda que tenha tido um professor por alguns meses.
Não toco mas, gosto e muito de música!
Durante dois anos consecutivos, frequentei aos domingos, onze horas da manhã, uma sala que trazia músicos eruditos. Eram quartetos, trios, cameratas, solos, e ali eu fui conhecendo um pouquinho dos principais instrumentos e me encantando com eles.
Violinos e violoncelos, piano com flauta, oboé... Duas apresentações me marcaram sobremaneira: o solo de harpa e o de cravo.
A harpa deslumbrou meus ouvidos e olhos. Olhar a harpista deslizando por aquelas cordas e extraindo um som que achamos ser celestial...
Depois veio o cravo; outro deslumbramento. Indescritível a sensação ao ouví-lo.
Por estas épocas, se eu tivesse que escolher algum instrumento para tocar, seria difícil me decidir, porém ficaria com a harpa e talvez se eu fosse homem, escolhesse tocar saxofone ( à noite na sacada de um apartamento, peito nu prateado pelo luar... e quem não se lembra de Kenny G?)
Segui tocando a vida em frente, assistindo à sinfônicas pela tv e foi num dia do último dezembro que tudo mudou.
Fui ao shopping, ao contrário do que a grande maioria imagina que é um lugar para se divertir e comprar e fui resolver problemas com a companhia de telefonia celular. Acho que não preciso dar detalhes. Saí, naturalmente, sisuda, carrancuda, irritada, e enquanto andava pelos corredores em busca da saída fui surpreendida por um som que ainda distante pareceu tocar o mau humor.


Diminuí os passos, voltei para trás e lá estava descendo a escada rolante a enorme tuba.
Fiquei deslumbrada por aquela campânula  que fazia as pessoas pararem e dançarem.
Sim de repente aquele andar do shopping estava todo dançando: velhos, jovens, bebês no colo, crianças e eu, ex-carrancuda.
Ele andavam e entravam nas lojas e nós ficávamos ali em frente dançando e depois os seguíamos com os celulares em punho para fotografar ou gravar. Um tumultuado dia de dezembro foi tomado por alegria.


A tuba exalava alegria.
Qualquer música ali se transformava em alegria.
Sim os violinos são maravilhosos, a harpa é divina, a flauta, o piano... todos podem evocar beleza, tranquilidade, serenidade. O samba pode ser explosivo, mas a tuba evoca e toca alegria no tom certo, na dose exata.
Então está decidido: vou tocar tuba.

Já tinha visto num livro das crianças que uma mãe saía para a aula de tuba, achei estranho, afinal nenhuma mãe toca tuba.


Aliás nunca vi um bebê ao nascer ser visitado na maternidade e ganhar uma tuba. Vou repensar meus presentes.
Meu filho disse que eu teria problemas com a portabilidade, uma vez que só ando de ônibus.
Ah! Isso não seria problema: depois de algumas semanas, outros tocadores de tuba fariam o mesmo e os jornais noticiariam: “Pessoas deixam os carros em casa e vão para o trabalho de ônibus só para ouvir os tocadores de tuba e assim a poluição dimuniu”.
Em pouquíssimo tempo teríamos nos coletivos – assento reservado para tocadores de tuba. E lá estaria eu assoprando alegrias.

livro: Isto é um poema que cura os peixes de Jean-Pierre Siméon. Ilustrador: Olivier Tallec

Eu vou de tuba. E você, vai de quê?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Fotos e gentilezas

Mais fotos do projeto 10 em 10?
Corre lá pra Goiânia: teve chuva e caixas também no cantinho delicioso da Carolina, um blog simples. Vale conferir!
Minha amiga Silvia enviou este vídeo sobre gentileza.
Adorei!


Ah! A tesoura?
Não encontrei ainda, mas...
Encontrei nas caixas outra "coisa"que corta:


Uma rapadura!!!
Corta qualquer dieta...
Beijos

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Projeto 10 on 10


E quem chegou por aqui hoje...


precisou de guarda-chuva
durante todo o dia!


no lado de fora


só mesmo os brinquedos dos miúdos


lado de dentro
miúdos, computador e pinguins!


só mesmo as gotas brincavam
de se pendurar no varal


e saltar com leveza rumo ao chão


de repente, precisei de uma tesoura.
Alguém sabe em qual das caixas
da mudança eu coloquei?


Desisti de procurar e 
fui o telhado fotografar


E faltava uma foto...
Às vezes temos mesmo que jorrar
com força
tristezas, raivas,
 excessos
Deixa sair
Deixa chover


E esse foi o nosso projeto 10 on 10, cheio de chuva, todo molhado, mas muito gostoso!
10 de fevereiro é o próximo. Vem participar conosco!










domingo, 8 de janeiro de 2012

Estante de livros


Temos um número tão considerável de livros aqui em casa, que podemos sim dizer que temos uma biblioteca.
Mas, não temos uma estante para livros.
E eu só me dei conta do fato lendo o interessantíssimo artigo do Claudio de Moura Castro na revista Veja desta semana ( edição 2251 ) intitulado “Onde comprar estantes de livros?”
Investimos conscientemente em livros para as crianças. Digo 'conscientemente' porque foi uma decisão tomada pelas próprias crianças de trocar o famoso hamburguer com brinquedo por um livro. Conto outro dia esta história.
Os livros infanto-juvenis foram se avolumando, juntando com os nossos de gente grande ( que come algodão doce escondido) e eu, assim como o autor do artigo, peregrinei por algumas lojas de móveis e não encontrei nenhuma estante própria para livros. Eram em sua maioria estantes para TV ou como disse o Claudio: “estantes para jarros e bibelôs”.
Na época não dei importância ao fato de não ter encontrado e arrumei uma solução que funcionou bem por vários anos.
O guarda-roupa de bebê ( que só depois que comprei, vi que era completamente dispensável...), virou a nossa biblioteca, num formato de livros empilhados e portas fechadas.
Nossa biblioteca/guarda-roupa não aguentaria mais um desmonta e monta e não veio conosco.
Vieram os muitos livros em muitas caixas. E como agora temos um espaço para mobiliar no melhor estilo biblioteca, começamos a idealizá-lo dentro de um orçamento apertado de começo de ano.
E hoje, ao ler sobre onde comprar estantes de livros, percebi que é um problema escandalizante.

Como os donos dessas empresas não são tontos, é inevitável concluir que, se não oferecem boas estantes, é porque não há compradores. Ou seja, o brasileiro frequentador dessas lojas não possui o volume de livros que provocaria a demanda por elas”

Abre-se aqui um leque de reflexões, que vão do preço dos livros, incentivo em casa, internet, escolas, número de livros/ano, etc.
Mas é fato: quem quiser móveis para livros, biblioteca particular ou vai mandar fazer no seu marceneiro de confiança, ou vai adaptar, ajeitar... Só não vai na mega liquidação das casas Bahia porque lá não tem. Eu já fui procurar!
Tenho uma clara imagem, enquanto digito, da sala da dona Rosa, onde eu adolescente entrava após pedir licença, ficava parada em frente à enorme estante onde ficavam impecavelmente brilhando aos meus olhos a enciclopédia Barsa. Era só me concentrar na letra inicial do assunto a ser pesquisado e aquela estante abria-se como uma porta...
E como é a estante de livros de vocês?   

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Fazer contato

Encontrei um antigo livro nas caixas de mudança de autoria de uma médica que enfrenta uma doença grave. No livro pequenas histórias.
Escolhi uma da qual gosto muito e tem um significado bem atual. Espero que gostem também.


do livro: Histórias que curam - conversas sábias ao pé do fogão de Rachel Naomi Remen



A Tarefa Nos Separa

O modo como perdemos uns aos outros pode ser bem simples. Um de meus pacientes descreveu como passava seu tempo com o filho antes do câncer. “Subíamos a pé uma montanha, uma escalada difícil, lado a lado, ambos concentrados em atingir o topo. Depois descíamos até o carro por um caminho diferente, um atrás do outro, e íamos para casa. Fizemos isso muitas vezes. Refletindo agora, tenho uma nítida lembrança de muitas daquelas escaladas, mas nenhuma de algo que meu filho tenha dito para mim ou que eu tenha dito para ele.”
Em psicologia infantil, o que esse homem está descrevendo chama-se brincadeira paralela, e é normal nas crianças de dois e três anos. Nessa idade, as crianças usam a mesma caixa de areia e até os mesmos brinquedos, mas estão brincando sozinhas, perto umas das outras. Em vez de se relacionarem entre si, elas se relacionam com uma atividade comum que fazem paralelamente.
Meu paciente aponta um grande contraste entre aquele modo e a maneira como ele e seu filho se relacionam hoje em dia. “Não sou capaz de fazer muita coisa agora, por isso nos sentamos e conversamos. Pergunto a ele sobre sua vida e como ele se sente a respeito dela. Pela primeira vez, sei o que é importante para ele, que tipo de homem ele é, o que o motiva. E falo com ele também. Sei agora que sou importante para ele, que ele deseja passar seu tempo comigo, e não porque podemos fazer atividades juntos. Às vezes simplesmente nos sentamos juntos, vivendo. A montanha estava em nosso caminho antes. Eu não sabia.”
Muitas pessoas vivem dessa maneira, compartilhando o lar, o emprego e mesmo a família, mas sem fazer contato. É possível ser solitário no meio da família, na própria casa. Com demasiada frequência, nós até mesmo exercemos a medicina desse modo. Lado a lado, paciente e médico concentrados na doença, nos sintomas, no tratamento, sem nunca ver ou conhecer o outro. O problema está no caminho, e cada um fica só.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Defronte


Mudança feita! Bagunça por arrumar, muitas coisas por desencaixotar... e vamos dando continuidade ao viver!
Obrigada pelo carinho que recebi durante a ausência. Aqueceu, motivou a voltar, a continuar.
E já que o assunto é a mudança, vou falar do lugar que moramos por dois anos.
Um apartamento.
Dois anos em que eu não pude ser completamente feliz.
Ao inverso de mim, marido e crianças se saíram muito bem.
O motivo da minha infelicidade?
A arquitetura do prédio.



Quando fomos visitá-lo, não me dei conta. Achei a fachada bonita , a localização excelente, etc.
Negócio fechado, mudança feita e aí começaram os problemas.
Olharam bem para a foto? Viram as pequenas janelas na fachada? Sim, o banheiro.
O banheiro era a frente do prédio.
Reclamei para o marido, que me disse ser uma bobagem este fato, não dava para ver nada lá da rua.
Isso reforça a minha tese de que o arquiteto, ou seja lá quem projetou este prédio era homem.
Homens não ligam para essas coisas...
Eu precisava convencer o meu metabolismo que estava tudo bem e resolvi largar aquela quantidade enorme de caixas para arrumar e desci com o cachorro para passear.
Havia uma ruela sem saída defronte ao nosso banheiro.
E ali, segurando o cachorro, defronte a nossa morada eu fiquei paralisada: era possível ver uma silhueta sentada em seu momento íntimo.
ruela defronte

Eu sou uma pessoa razoavelmente ecológica. Procuro economizar água, energia e esse meu lado “verde” foi decisivo para um certo bem estar nestes dois anos.
O que fez o metabolismo diante das silhuetas expostas? Decidiu-se por trabalhar somente à noite.
Então eu ia ao banheiro no escuro, sem acender a luz.
Claro, que os familiares me indagavam “por que você está no banheiro escuro? Acende a luz”.
Se alguém defronte ficasse me olhando, bem que seria engraçado – tudo escuro e de repente, como uma explosão, um clarão... o segredo da Nona em ação!

Aproveito que estou me expondo mais do que deveria e vou confessar para a Chica que algumas fotos de céu que eu lhe enviei foram tiradas dali, do banheiro. Espero que não se importe.

Há outra coisa que eu preciso saber;
A querida prima morou conosco por um tempo. Nunca tive coragem de lhe perguntar pessoalmente. Pergunto agora – naquela correria para não perder a hora do cursinho, naquele tempo em que o norte era o vestibular, você se incomodava com a silhueta na fachada? Responde aí nos comentários porque não tenho coragem de perguntar...

A Júlia, minha filha, sempre me pedia para fechar a janela. Como se isso resolvesse.
Ah! Como eu gosto da inocência das crianças.
Embora eu já esteja em outra habitação, nem adiantaria me sugerir uma cortina, uma toalha. Era proibido. Normas de condomínio.

Como eu não tinha nenhuma foto desse local em que fui quase feliz, pedi ao marido que ficasse defronte para o prédio e tirasse algumas fotos.
Isso foi no último dia, quando ele foi para lá entregar o imóvel.
Voltou feliz por estarmos na nova casa:
Realmente, dava para ver tudo. Se a máquina fosse profissional, eu teria clicado alguém sentado. Que coisa, não imaginei que era tão nítido”.
Que sorte que sou ecológica e já estamos na nova casa, com o banheiro no seu devido lugar.