quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Árvores da vida


Acordo com um som confuso vindo da rua: vozes, carros, buzinas e o som de um apito que parece soluçar.
Abro a janela e lá embaixo vejo o agente de trânsito agitando rapidamente o braço o que faz com que o som de seu apito saia cadenciado.
Não sei o motivo de tanta inquietação, mas preciso descer para ir até a padaria.
O barulho é pior ali da calçada. A rua da padaria está interditada para carros. Começo a caminhar por ela e logo enxergo o motivo da balbúrdia.
Uma árvore gigante morta ali na rua. Desfalecida sobre uma casa. Sobre fios da rede elétrica. Sobre o caminho de muitos humanos.



Não posso me demorar. Aquela imagem é espantosa.
Levo-a para a mesa do café da manhã.
Um outro som nos adentra – agora é a motosserra.
Ruído este que me faz relembrar uma campanha publicitária da minha adolescência contra o desmatamento. Proteger as árvores, pulmões do mundo”.



Meio do dia e é preciso passar novamente pelo caminho com as crianças. Paramos. Olhamos em silêncio que é quebrado de repente pela pergunta da menina:
Mãe, e se tiver um ninho com ovos ou filhotes?”
Seus olhos estão avermelhados assim como a pontinha de seu nariz. É uma pergunta triste.
Filha, deve haver entre todos esses funcionários alguém para remover cuidadosamente o ninho. Deve haver...”
Cimentamos os pés de nossas árvores, impedimos que a terra se mostre. Talvez exausta de tanta inércia, de tanta indiferença a árvore queira se libertar, queira correr. Está enrijecida.
Ou talvez irada e resolva desabar sobre nossas cabeças, nossas casas, nosso caminho...

Enquanto estou ali parada, ouço uma pessoa tranquilizando os moradores daquela rua. Não há com o que se preocupar, todas as árvores daquela rua serão cortadas e tantas outras também. Estão podres, só servem para causar transtornos.
Será esse o olhar urbano para uma árvore?



Escrevi este texto quando ainda morava nos arrebaldes da avenida Paulista. Foram dois dias de trabalho da motosserra, depois passaram conforme o prometido cortando todas daquela rua.
Leio no jornal que as quedas de árvores causam muitos problemas no trânsito, além disso, a queda de energia traz o risco de morte para pessoas que dependem de aparelhos para sobreviver.

Sempre aprendi que as árvores eram sinônimos de vida. Davam-nos o ar purificado, eram os pulmões do planeta. E agora fico sabendo que elas mesmas representam risco de morte.
Não foi só aquele dia que começou confuso. Eu me sinto confusa.
Será que podemos ligar o planeta à aparelhos que o mantenham vivo, longe das perigosas árvores?    

14 comentários:

  1. Dá uma tristeza qdo isso acontece...e não é a primeira vez, infelizmente, acho que não é a última. Por mais que me digam que é perigoso manter uma árvore velha próxima a zonas residenciais, não consigo me ver morando em uma cidade ou outro lugar qualquer, sem elas.
    Se convivemos com bandidos e violência, por que não com árvores!?
    Tristeza...
    Bjs

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  2. Ana Paula, vou usar um trecho do texto para expressar minha opinião sobre essa real situação:

    "Estão podres, só servem para causar transtornos".
    Será esse o olhar urbano para uma árvore?


    Infelizmente esse é o olhar urbano para uma árvore, um pássaro, para as flores, para os idosos, para os deficientes físicos, para os presidiários, para os desempregados, para os doentes crônicos, para os menos letrados,...,para...

    Manoel.

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  3. Que triste,né? Aqui em Porto Alegre quando construíram a perimetral, víamos todas as da rua serem mortas.Triste,triste...beijos,chica

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  4. O mundo esta de cabeça para baixo mesmo né?
    Que triste! Realmente as pessoas se tornaram muito egoístas agora, não pensando no futuro do nosso planeta.

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  5. "É preciso não esquecer nada:
    nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
    nem o sorriso para os infelizes
    nem a oração de cada instante.
    É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre."
    É preciso não achar normal, não se acostumar não deixar de se apiedar, indignar, desejar ver folhas, raízes, pássaros e borboletas.

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  6. Minha querida!
    Esse sentimento é muito latente,
    quando vemos uma árvore tombar, mas as vezes é necessário...Elas também tem um ciclo de vida.
    Abraços! Tudo de bom pra ti.

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  7. Oi querida, quando li sobre o ruido da motossera fiquei triste.
    Certa vez passei por essa mesma tristeza ao ouvir, de manhâ, um motossera cortando um "jequitibá" ao lado de minha casa. A sombra era tão boa, e ela tão linda, que não acreditei no que ouvia.
    Fui correndo ver e continuei não acreditando porque ela era saudável, jovem ainda. Foram os proprietarios do lote que pediram para que ela fosse removida. Parecia que chorava, e eu chorei junto, o dia todo.
    Essas suas fotos são alarmantes, a árvore era enorme mesmo, talvez muito velha, mas é tudo muito triste.
    Tomara plantem novas no lugar! vamos ser otimistas senão morreremos loucas...rsrsr
    beijos amiga, aqui está um dia bom, sem chuvarada.

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  8. Ana, boa tarde,
    Emocionante seu texto, tem pessoas que dependem de aparelhos para sua sobrevivência, não todas, mas o mundo inteiro depende das árvores para sua sobreviência, ela produz o ar que respiramos, sem a natureza não há vida. Um abraço.

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  9. Ai Ana que texto lindo! E as tuas palavras são tão delicadas, mesmo a história tendo um fundo triste. Lindo mesmo! Beijõess

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  10. E assim vamos acabando não só com as arvores mas com nós mesmo. Iremos acordar um dia? Pelo bem dos nossos filhos, netos e outras gerações espero que sim. bjooo grandeee

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  11. O perigo está nos homens e querem trasportar para as pobres árvores. Constroem casas, prédios, estradas, pontes em lugares indevidos, onde encontram brechas e a culpa são das árvores...Isso aí é a natureza retribuindo a gentileza..
    Bj grande!
    Débora

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  12. Oi Ana. Texto cheio de sensibilidade. Estamos transformando árvores em perigo...

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  13. As árvores não são perigosas.
    Os fios e as casas é que deviam estar a uma distância segura delas, para que quando morressem.... o pudessem fazer em paz!

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