quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ângulos, paralelas, perpendiculares


Ângulos, paralelas, perpendiculares...
Há quem bem os calcule
Isso a vida não me ensinou
Bem sei que quando um ar gélido
invade minhas narinas
e as frestas da janela de meu quarto são invadidas
por pálidos raios de sol
é inverno.

Enquanto ângulos, paralelas e perpendiculares
são calculados lá fora
o aroma do café invade minhas narinas
a xícara fumegante mistura sua fumaça
aos raios vívidos de sol
que clareiam a cozinha
é primavera

Entre ângulos, paralelas e perpendiculares
Bem sei que posso não mais saber
a estação em que estou
A vida me ensinou que ângulos, paralelas e perpendiculares
às vezes não deixam os raios de sol
nos despertar

Ana Paula


Às enormes cidades, que crescem desenfreadamente, e a cada dia engolem o raios de sol.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Travessias e travesseiros


Atravessei incontáveis noites
acariciando suas cabecinhas
repousadas em pequeninos travesseiros

Nestes mesmos pequeninos travesseiros
vi os pequeninos fios de cabelo sendo trocados
vigiei para que a febre atravessasse para bem longe
de seus macios corpinhos de bebês

Travesseiros pequeninos cheios de maciez
cheiro de banho tomado, cheiro de leite golfado

Travesseiros pequeninos que guardam em segredo
sorrisos ridos
que delicados rostinhos dormindo
sorriram

O que os fazia sorrir?
Só os pequeninos travesseiros conhecem as respostas
pequeninos travesseiros que guardaram
o sono agitado do passeio na manhã seguinte

Pequeninos travesseiros que também fazem travessias...
Deixam agora de ser pequeninos
Tão somente tornam-se travesseiros

Travesseiros para repousar travessuras
Travesseiros que vigiam para a matéria da prova não fugir
Travesseiros que acolhem lágrimas das inevitáveis frustrações
Travesseiros que atravessaram meus bebês cuidadosamente
e agora repousam carinhosamente crianças
que ainda exalam cheirinho de banho
cheirinho de sono
sorrisos em segredo

Ana Paula


Não é de hoje que as crianças estão me pedindo para trocarem seus travesseiros porque estavam dormindo naqueles pequenos de bebês!
Resolvi deixar de protelar e depois de algumas estações de metrô, retornei com dois exemplares “kids”.
Resolvi também poetar sobre travesseiros e me deu uma curiosidade para saber da sua história.
Adorei o que encontrei: “Atravesse e travesseiro não são apenas palavras parecidas como possuem uma origem comum, a ideia de algo posto de través, atravessado. O travesseiro recebe esse nome justamente porque fica atravessado em relação ao colchão”.
Confesso que esperava mais para o travesseiro. Acho-o tão poético! Sonhos, lágrimas... enfim ser resumido a atravessado em relação ao colchão, não gostei e por isso 'poetei' para este companheiro inseparável!
Agora falta uma fronha poética para os novos travesseiros...

(Ivani, fronha é contigo!)

Vocês consideram o travesseiro somente um atravessado?! Beijo


domingo, 25 de setembro de 2011

Preguiça de mãe


Ora vamos
deixes de aninhar-te
em meus olhos
Não ouves a cantoria da passarinhada?
Sou mãe, preciso despertar...

Apure apure
deixes de mandriice
e me deixe despertar
O primeiro raio de sol
há tempo flamejou na janela
Vejas o clarão
tão apressado para entrar...

Ora vamos
não sentes o aroma do café
exalando do bule da vizinha?
E eu ainda nem pus a água a aquentar
nem a água fria a me despertar...

Ligeiro ligeiro
deixes de benquerença com meus olhos
cesses o teu acalanto
Sou mãe, não posso aqui ficar
a mandriar...

Chegues pertinho
quero te segredar:
se tu, preguiça, apressar-te a partir
para um outro cantinho do planeta
chegarás a tempo de um ofurô quentinho
e olhos puxadinhos a te esperar
e uma noite inteira de luar...

Votando preguiçosamente...
Acalentada pelo carinho dos
amigos que aqui encontrei!
Beijos

sábado, 10 de setembro de 2011

Filha

Ficarei temporariamente sem blogar.
Obrigada pelo carinho que recebo.
Até...
Um poeminha que fiz para a minha filha. Beijos!



Seguro a palma rosada
de tua pequenina mão
nossas mãos enlaçadas
a passear numa tarde qualquer

Entre os teus sorrisos e conversas
meus passos apressados
aprendem a andar miúdo
meu rosto reencontra
o toque da brisa
meus olhos se encantam
com o lusco-fusco no céu

Filha, você segue ao meu lado
sem nenhuma dúvida
no teu coração
Entrelaçamos as nossas mãos
entrelaçamos nossos corações
com fios de ternura

Passeamos numa tarde qualquer
passeamos pela vida
Estiveste escondida em meu coração
e agora traze-me enlevo
quando recosta tua cabeça em meu peito
e eu acaricio as asas dos teus sonhos

Asas que um dia qualquer
te levarão em voo
ao encontro dos teus sonhos
e trarão de volta a música
do teu sorriso
no ninho que eu teci em meu coração
fios de ternura sempre a te acolher

Filha, você segue ao meu lado
sem nenhuma dúvida
no teu coração
e eu sigo com a certeza
que trouxeste o beijo do céu
para os meus dias aqui na terra

Ana Paula

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fórmula 1


Não aprecio fórmula 1, e provavelmente seguirei assim. Porém, deparei-me com um fato que mudou o meu olhar para tal competição.
Desde o feriado, estou separando para reciclar revistas antigas que insistem em se multiplicar. Nenhuma comprada. Mas elas estão disponíveis nas farmácias, mercados, livrarias e eu vou trazendo para casa, sempre encontro artigos interessantes, vou deixando para ler depois e a pilha só faz aumentar!
E foi numa dessas revistas destinada à renovação via reciclagem que encontrei o tal texto que mudou meu olhar.
Minha vaga compreensão sobre o evento de fórmula 1 que anualmente acontece aqui em São Paulo, era de um autódromo cheio, hotelaria lotada e movimentação turística e gastronômica pela cidade.
E aí entra Cláudia Troncoso que está à frente da Abre – Associação Brasileira de Redistribuição de Excedentes.
Para ela a correria começa mesmo na segunda-feira pós-GP quando ela olha e fotografa mentalmente tudo o que as equipes deixaram para doação, como por exemplo: um sofá, um processador, sacos com gemas congeladas para fazer bolo, 12 mil minipizzas semiprontas e congeladas, sobras de latas de tinta de várias cores, pilhas e pilhas de garrafinhas de água.
Ela conhece cada instituição cadastrada e com sua memória de elefante, ela sabe para onde destinar cada doação: uma porta doada que vai para um creche que estava com a porta horrorosa, pedaços de carpete de áreas VIP, servirão de tapetes em um asilo; lonas para um quilombo, uma placa de propaganda de pista do autódromo, servirá para fazer a cobertura no quintal de uma escola.
Um olhar e tanto dessa pessoa que vê o que outros nem percebem.
E depois dessa corrida, tudo o que foi recebido pelas instituições é fotografado para que o doador veja o resultado.
Eu não conseguia perceber essa outra corrida dentro da fórmula 1. Uma outra maneira de olhar...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Trilhos e trens






Já ouvi dizer de pessoas que tem sangue frio, sangue quente, sangue de barata, tem os de sangue azul. Recente soube de uma mãe, que como boa italiana, tinha vinho nas veias... e meu filho, desconfio que no lugar das veias, possui trilhos.
Ao invés de sangue, máquinas ferroviárias lhe percorrem: do vapor às mais modernas!
Desde pequeno este é o seu fascínio.
Aos três anos, presenteamos o pequeno com um trem de madeira e uma ponte. Brincou um ano inteiro, todos os dias. Corria numa velocidade, que eu fui tentar fazer o mesmo: correr e passar com o trem correndo sobre a ponte.
Nem vou dizer o que aconteceu!
Impressionava a habilidade dele para tal façanha.
Teve um ídolo nesta primeira infância: o secretário de transportes do estado. Fez-me levá-lo numa inauguração de metrô porque o tal homem lá estaria.
Apontou-me emocionado o distinto senhor.
Quase aterrizando em Porto Alegre, viu trilhos logo abaixo. Não queria subir a serra, preferia ficar por ali andando dentro de um trem.
Vamos ver por quais caminhos estes trilhos o conduzirão. Ele diz que ser engenheiro de trem.
O que eu digo disto? Amor aos trilhos e a matemática ele tem!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Alamandas no cabelo


Cabelo adornado com alamandas
rosto álacre
faço alar meu coração
disparado feito alazão
entre álamos e alamedas
alastre a música
do meu alaúde

Algazarra festiva em meus lábios
entre o alarido da criançada
encontro-te recostado no alabastro
entre um abraço
um beijo roubado

Volto alada para casa
almejo outro beijo
entre alamandas e alaúde
alento que torna minha alma
alba
alimentada
de afoito amor

Ana Paula

sábado, 3 de setembro de 2011

Colorido


Eu já fui indagada por mais de uma vez pelas crianças sobre o nome das cores. Algo como porque amarelo chama amarelo?
Não sei, mas vou me esforçar para descobrir!
Lembrei da promessa feita e fui em busca das respostas. Encontrei explicações, para mim, desconhecidas, e bem interessantes. ( descobri que saber latim responde muitas indagações!).

Amarelo: Na antiguidade, pensava-se que a icterícia, uma doença que deixa as crianças amareladas, vinha da bílis, secreção produzida pelo fígado que era chamada “humor amargo”. No latim, amargo era amargus, que no diminutivo virava amarellus, que acabou virando amarelo.

Laranja: quando os árabes resolveram fazer uma visitinha à Europa, trouxeram na bagagem a fruta laranja – nárandja, em árabe. De lambuja, acabaram batizando a cor.

Branco: em geral, dizemos que algo bem liso e brilhante é “branquinho”. Os latinos também achavam isso e pegaram o germânico blank, que significa polido, para falar da cor. Aliás, o termo “armas brancas”, usado para facas e punhais, vem daí: branco de polido, reluzente.

Preto: o nome da cor preta vem do latim appectoráre, que queria dizer “comprimir contra o peito”. Como assim? É que, com o tempo, o appectorár, virou apretar. E por uma analogia muito criativa, deu no preto, querendo dizer algo denso, espesso, “apertado”.

Azul: foi uma pedra preciosa chamada lápis-lazúli que batizou a cor azul. Lápis não conta, porque já queria dizer pedra em latim, mas o lazúli veio do árabe lázúrd, nome da rocha azulada. Em latim, o que era pedra continuou pedra, e a cor ficou simplesmente azul.

Marrom: a castanha portuguesa, aquela do Natal, chama-se marrom, em francês. E foi da cor desse fruto que veio o nosso marrom. Aliás marrom-glacê é isso: um doce escuro feito de castanha portuguesa.

Cinza: o cinza nasceu daquela massa de pó misturado com brasas que sobra no fim das fogueiras. Por associação, a palavra latina cinisia, que queria dizer cinzas, transformou-se também no nome do tom preto-claro.

Vermelho: antigamente, como ninguém conhecia urucum nem pau-brasil na Europa, o único jeito de fazer tinta vermelha era usar um inseto – hoje chamado de cochonilha – que esmagado, virava um vermelhão. O nome dessa cor vem do latim vermiculum, vermezinho.

Verde: aqui chegamos a uma das poucas cores que já nasceu cor. O verbo latino vivere significava estar verde, verdejar. Dele é que nasceu a associação do verde com algo que está nascendo, que ainda não está pronto.

Magenta: teve origem em um poema em que a última estrofe dizia: “...e todos os campos ficaram cobertos de magenta”. Em 4 de junho de 1859, houve uma batalha sangrenta entre franceses e austríacos, da qual praticamente não houve vitoriosos; os corpos ensanguentados dos soldados mortos misturados à neve e sob o reflexo do sol, apresentavam a cor retratada do poema.

Fontes: aqui e aqui

Semana colorida a todos!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A arca


Ah meu menino
quando minha voz não estiver mais aqui
e quiseres ouví-la
procura os pássaros
foram eles que a levaram!

Encontre-os naquele instante
em que o céu tinge de laranja
o sonho das estrelas...
e os pássaros trarão a minha voz a ti

Se procurares pelo meu toque
e ele não estiver mais aqui
espere pela brisa
Foi ela que arrebatou meu toque
meu menino

Ah meu menino
mas se ao acaso
for noite
e os pássaros
estiverem recolhidos em seus ninhos
e a brisa estiver adormecida
em cima de uma nuvem
vá então até o teu coração

Procures uma arca...

Enquanto brincavas
enquanto dormias
enquanto crescias
eu acomodava
toques, sussurros, canções
na arca

Ah meu menino
deixei uma arca no teu coração

Ana Paula