terça-feira, 29 de março de 2011

Semáforos

Moro próximo à avenidas movimentadas e esperar nas esquinas dos semáforos, já é rotineiro.
Rotineiro e demorado. Avenidas largas, carros incessantes, fazem com que o tempo que temos esperar o sinal do pedestre esverdear seja significativo.
Nada resolve ter pressa.
Tem que ficar ali mesmo, imóvel... mas há algo fascinante enquanto se espera, principalmente quando se está sozinho – a conversa alheia!
Uma dessas escutas anônimas em semáforo, já tinha me marcado profundamente.
Ouvi a descrição de um jovem, trajando terno, sobre lavar louca.
  • Sabe que eu gosto de uma pia lotada de louca, aquela bagunça, aquela confusão. Porque para mim isto é alquimia. Você começa e logo está tudo arrumado, transformado.
Acende o bonequinho verde, e lá se vai o alquimista das pias. 
Nunca soube direito o que é alquimia, mas aquela escuta me transformou. Toda vez que a pia está caótica, lembro-me do jovem e começo a minha alquimia. E sabe que dá certo?
A de ontem então, está me fazendo rir só de lembrar.
Uma senhora com sua cuidadora aguardando o esverdear ao meu lado. A cuidadora diz para ela:
    • Esses dias eu vi uma senhora de bengala e salto alto.
    • Velha biruta. Tinha que estar internada.
Não contive a gargalhada. Nunca vi uma senhora de bengala e salto alto! Mas deve ser das velhinhas mais excêntricas e bem faz ela em andar por aí causando espanto em muitos!
Alguém mais já ouviu uma boa história num semáforo?

Água da alma

01770006 by Ale J. Ven.
01770006, a photo by Ale J. Ven. on Flickr.

Jorra água
leve consigo a exaustão de todo um dia
mas não leve
o cheiro de minha alma
somente ela recende assim
e ele me encontrará
em meio a tantos outros aromas
inalando o cheiro da minha energia

Jorra água
quero que este banho
me subtraia
de todos os adornos
que uso para camuflar
eu de mim mesma
estarei desnudada
quando ele chegar
porque nossas almas
irão se abracar
e quero estar assim
desacrescida


Jorra água
envolver-me-ei
em seda carmim
para que ele sinta
a avidez do meu desejo
Não. Dispensarei a seda

Jorra água
quero simplesmente
me encharcar
escorrer
quero estar molhada
porque sinto
que os seus lábios
estarão sedentos

domingo, 27 de março de 2011

A história de Hélio

Macro Flower Study by SkipSteuart
Macro Flower Study, a photo by SkipSteuart on Flickr.
Intenso vermelho, pulsando a vida ou a morte



A história do Hélio, é uma história comum. Já ouvimos em tantos lugares, talvez com as mesmas palavras colocadas em diferentes linhas, pronunciadas por diferentes timbres. Mas infelizmente é uma história comum e esta felizmente tem um final feliz.
Há algum tempo venho nutrindo um desejo de conversar com um morador de rua.
Não. Não é mais este o termo usado. E acho isso bom. Uma evolução de conceitos, evitando preconceitos.
Passamos do mendigo para o morador de rua e agora: pessoa em situação de rua. Como vim a saber, a rua deve ser transitória e nunca um endereço fixo.
E a minha conversa se deu de maneira inusitada, sem eu esperar.

Reciclo o meu lixo (porque o meu prédio não o faz) num supermercado.
Sou recebida por um homem simpático, sempre com uma boa palavra.
Numa tarde, ele parecia estar tranquilo em seu serviço, o lixo todo separado, empacotado, ele puxou conversa e eu aproveitei para perguntar se era verdade que aquele projeto do supermercado auxiliava moradores de rua.
Ele respondeu entusiasmado que sim e me pediu se eu tinha uns dez minutos para ouvir a história dele.
Eu fui uma pessoa em situação de rua, dona. Porque é assim que a gente fala, não é morador de rua... Morei três dias na rua”

Migrante do Ceará, veio sozinho para São Paulo morava numa pensão e trabalhava como motoboy. Com bons resultados, mobiliou seu modesto quarto com geladeira, fogão, TV e financiou uma moto nova.
Foi assaltado, levaram a moto, deram-lhe um tiro. Dois meses de internação, sem visitas, sem preocupar a mãe distante e com 86 anos. No dia da alta, ainda mancando, com muletas viu toda sua mobília envolta por sacos preto, seu quarto ocupado porque não havia feito pagamento. Não tinha como pagar, era autônomo.
Vendeu tudo ali mesmo. Com o dinheiro foi para uma outra pensão. Quarto coletivo. Pagou seis meses e comia apenas uma vez ao dia. Sentia fome.
Ao final dos seis meses, sem dinheiro, sem emprego, ainda debilitado em seus movimentos, saiu a esmo.
Foi para a rua.
Foram três dias, onde no segundo ele achou que fosse perder a sanidade mental.Ouvi em silêncio, absorvendo cada detalhe até esta parte e daí perguntei o que foi mais difícil. Ainda não conhecia o final da história.

Disse que o pior era apanhar todas as noites.
Sim. Chegou a apanhar três vezes na mesma noite.
Os boyzinhos param o carro dona e descem chutando, dando socos. Tem até moca que também faz isso e a gente não tem como se defender, eles são muitos. Vão embora e pensa que o pesadelo acabou? Eles voltam trazendo mais amigos para se divertirem batendo na gente”

Hélio me disse que nunca perdeu a fé. A todo instante pedia uma luz.
E essa luz veio na forma de uma assistente social que o levou para um abrigo e consegui-lhe o emprego no mercado. Mostrou-me orgulhoso o uniforme que vestia.
Antes fazia parte de um programa da prefeitura, mas agora está em fase de experiência para ser um funcionário do próprio supermercado. Ganhará mais. Já faz planos. Boa sorte Hélio!

Como disse no início, já conhecemos esta história.
Mas há uma parte dela que me surpreendeu e me paralizou:
Hélio me disse assim – dona, tem uma coisa que é muito ruim na rua. Você está dormindo ali no chão e quando acorda tem pacote de bolacha, tem pão, tem comida pra você.
Ele me disse que entende a boa intenção das pessoas, mas esta facilidade é ruim para quem está na situação.
A gente fica sem objetivo, sem sentido da vida. Quando você precisa sair e ir atrás de uma comida, você vai andando, você tem um motivo para estar vivo. Quando está tudo fácil, parece que a gente fica mais perto da loucura”
Disse que há muitos em situacão de rua que estão doentes e estes sim precisam ser alimentados e cuidados porque não conseguem se locomover.
Mas eles sabem cada lugar que tem um prato de comida, um lugar para lavar roupas, tomar um banho.
Disse que tem muitos que se acomodam por tanta facilidade e ficam malandros. Com toda dificuldade, ele prefiria caminhar muito, mas chegava, alcançava o objetivo do dia.

Esta é uma parte da história que eu não conhecia.
Um amigo nos inspirou certa vez a refletir sobre ajudar, fazer caridade e ser solidário. A ajuda e a caridade geram dependência. A solidariedade é necessária para aquele momento e promove a independência.

Ouvindo a história do Hélio, acho que consegui compreender um pouco melhor que muitas vezes, nas melhores das intenções posso estar atrapalhando pensando estar ajudando.
Pedi ao Hélio para contar a sua história aos meus amigos pelo computador. Ele autorizou e disse que seria bom porque mais pessoas saberiam que não devemos perder a fé.
Sem dúvida esta é a maior lição. Mas quantas outras nas entrelinhas...

Corações esculpidos

Há uma distância
que não dói em mim
Há uma separação
que não lança meu coração
à uma triste escuridão
Há uma solidão alegre, silenciosa e feliz
que me enleva

Caminhas ao som
dos clamores
esculpindo corações

Como poderia eu desejar,
por um instante sequer
que as tuas mãos
deixassem de esculpir?

Quanta beleza há em teu trabalho
Talvez já tenhas esculpido
meu coração
e eu ainda não percebi

Tornaste-o tão belo
que não sinto
a dor da ausência

Não posso ver
meu próprio coração
esculpido por ti
Sinto apenas que ele
toma uma forma

Que ele quer
te aconchegar
depois de tanta separação
esculpindo outros corações

quinta-feira, 24 de março de 2011

Leitura




Encontrei esta coleção olhando uma livraria. Trouxe para o Bernardo que adora perguntar sobre borrachas, mas como nunca tinha sentado com ele para realmente explicar, ficava muito evasivo para ele a tal “árvore da borracha”.
Eu mesma, confesso que desconhecia muitas das citações do livro, incluindo que a seringueira precisa de um tempo de 20 a 30 dias para cicatrizar e formar uma casca lisa, pronta para uma nova sangria.
Adorei saber mais um pouco da importância do porto de Manaus, do belíssimo teatro (li bastante a respeito na blogagem coletiva, lá na Pandora sobre a Amazônia).
Chamou-me a atenção, o fato do livro ser inspirado no programa de TV um pé de quê?, apresentado pela Regina Casé. Assistimos a muitos desses programas, é divertido, aprende-se muito a respeito da árvore e de toda a cultura ao seu redor. Adorei o especial sobre a Sakura, cerejeira do Japão; o exótico Baobá e também gostei muito quando ela apresentou as Samambaias.
Por enquanto, na livraria, tinham Seringueira e Pau-brasil.

No assunto livros, fiz um comentário dia desses em um dos blogs que sigo sobre o valor elevado dos livros, citando especialmente os infantis.
Já temos sim alguns programas de incentivo à leitura, tornando a aquisição bem mais popular. Em algumas estacões de metrô já é possível encontrar livros infantis a R$ 5,00.
E não podemos nos esquecer das bibliotecas.
Numa outra cidade em que morei, tínhamos por vizinho de frente, nada menos do que uma biblioteca, a qual frequentávamos semanalmente.
Por aqui, a mais próxima, entrou em reforma prevista para dois anos.
Ainda não conheço a Biblioteca São Paulo. Ouvi, que é um exemplo. Quando sai um livro, ele já está lá.

Fiquei impressionada com a beleza externa e a descrição, que o Octávio, pai dos trigêmeos, postou lá no blog deles.
Vale conferir a arquitetura, o incentivo à leitura lá do Canadá.
E aí no Sul, no Recife, na Suécia como estão as bibliotecas? Quem frequenta?
Beijos. 

A ausência

Tinha pensado num post com este texto, que é de um poeta indiano, que já citei por aqui, Tagore, para fazer no dia das mães.
Como ele me trouxe tantas reflexões, que seguem além das mães, não há porque esperar por uma data.
Reflexões que vão do Japão, Líbia, de uma pessoa que não vemos há muito, das que vemos sempre, das que não vemos enquanto estamos conectados...
Não tenho a data exata do texto. O poeta nasceu em 1861. E seu texto chama-se: A Ausência

(…)
Como exemplo,vou contar um de meus sonhos noturnos. Perdi minha mãe quando ainda era criança e cresci sem a presença dela a meu lado. Ora, na última noite, encontrei-me como um menino em uma casa de campo às margens do Ganges. Minha mãe estava ocupada, dentro de casa. Para a criança, viver na proximidade da mãe é coisa muito natural, e o pensamento da presença dela não ocupa constantemente seu espírito. Eu passava, por tanto, diante do aposento em que ela se encontrava sem lhe dar atenção. Repentinamente, não sei por quê, ao chegar no terraço, lembrei-me de que ela estava ali, bem perto; imediatamente, precipitei-me e lhe fiz meu pranam (saudação corrente na Índia para expressar respeito. A criança, inclinando-se diante da mãe, roca o pé dela com a mão direita e, a seguir, a leva até sua própria fronte.)
Ela me tomou pela mão e me disse, simplesmente: “Você veio...”
Meu sonho, que terminou neste momento, sugeriu-me algumas reflexões. Sob o teto familiar, um menino vai e vem, dez vezes por dia, diante da porta de sua mãe. Ele bem sabe que ela está ali, mas age como se a tivesse esquecido. Terá ele o sentimento de uma carência? De qualquer modo, ela enche o guarda-comida e prepara as refeições para ele ; quando ele adormece, ela está junto ao leito e o abana sem se cansar. Ele é cuidado, vestido, alimentado. Única diferença: ela não o toma pela mão nem lhe diz: “Você veio...”Entretanto a partir do dia em que compreende plenamente o preço de tal contato e de tais palavras, ele aspira tão somente a ouvir a voz de sua mãe e a sentir o calor da mão dela. E, caso a necessidade que ele tem dela não puder ser satisfeita, ele anda errante de aposento em aposento, na casa tão bem provida de tudo, mas na qual nada mais tem encanto ou sabor para ele.
Na sociedade de hoje raros são os indivíduos que sabem se aproximar realmente das pessoas ou das coisas que constituem seu meio(...)

Achei forte este texto, inspirador de muitas reflexões. Para mim, uma delas, é que deveríamos acabar aqui no nosso Planeta com o dito popular: só se dá valor depois que se perde”.
Não precisamos dar valor depois que perdermos. É sim possível estar presente, por inteiro naquele momento. Sentir, ouvir verdadeiramente.
Como disse um amigo: “Saborear a vida sem limite e sem tempo para começar ou acabar as coisas em sua vida. Existir dentro do momento.”

quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma nota

Ivani, que já se tornou minha amiga, lá do blog Samambaia, fez um comentário no post anterior "colherzinhas"e numa rápida pesquisa, encontrei artigos falando do falecimento do autor daquele texto em Porto Alegre, mês passado.
Durante muito tempo eu li seus textos publicados às segundas no jornal Folha de São Paulo. 
Era o único dia da semana que eu ia até a banca para comprar, justamente por causa da coluna de Moacyr, mas confesso aqui que não sabia quem ele era. Apenas gostava.
Nesta rápida pesquisa fiquei impressionada, com o tamanho da obra produzida por ele,  há também muita literatura infantil. Assim que houver possibilidade vou adquirir algumas obras  se alguém tiver mais informações, se tiver lido um livro dele, compartilhe por aqui.
Exatamente hoje, 23 de marco, nascia Moacyr.
Mais um desses mistérios da vida: um texto, um comentário, uma pesquisa e uma data exata...
Então uma homenagem singela, quase anônima. Não tenho conhecimento nenhum para falar da pessoa, mas muitas segundas- feiras foram diferentes para mim por causa dos seus textos, em especial o do post anterior.
Obrigada.

terça-feira, 22 de março de 2011

Colherzinhas

PINK spoon by geishaboy500
PINK spoon a photo by geishaboy500 on Flickr.


Li este texto faz alguns meses, numa manhã de segunda-feira. Senti imediatamente que queria mandá-lo a uma pessoa.
Enquanto digitava, os pensamentos foram se apoderando do meu sentir, e de tanto pensar, desisti de enviar.
Ficou guardado. Hoje quando encontrei essa imagem, fui em busca do texto.
Preciso sentir mais e deixar o pensar às vezes , de lado.

Quando eles se deram conta de que a posição que adotavam para dormir tinha um significado psicológico importante, ficaram extasiados. Recém-casados, sabiam que se amavam muito. Mas não tinham pensado que seus próprios corpos exprimiriam isso. Eles eram as colherzinhas; tais como as colherzinhas na gaveta de talheres, encaixavam-se maravilhosamente um no outro. Dormiam acolherados, como dizem os gaúchos. E a partir daí passaram a chamar um ao outro de colherzinha. Os amigos achavam graça, mas a verdade é que eles eram o exemplo do casal perfeito.
Contudo, as coisas mudam. Já no final do primeiro ano de casamento começaram as brigas. Descobriram que não eram tao parecidos assim, que seus gostos diferiam muito.
O resultado disso é que, na cama, já não adotavam a posição de colherzinha. Ficavam os dois de costas um para o outro. Ele roncava, e ela, impaciente, o cutucava com os dedos, que pareciam os afiados dentes de um garfo. Ele respondia com frases agressivas, cortantes como a lamina de uma faca afiada.
Acabaram se separando. Ela ficou com o apartamento, onde agora dormia sozinha numa cama de casal que subitamente se tornara imensa. Ele se mudou para outra cidade e não dava noticias.
Ela aguentava firme, mas um dia desabou. O dia em que, abrindo a gaveta dos talheres, viu as colherzinhas perfeitamente encaixadas umas nas outras. A imagem da harmonia, a imagem do amor.
Pensou em mudar de país. Pronta para viajar, bateram à sua porta. Era uma entrega para ela.
A bela caixa de veludo, ela abriu com os dedos trêmulos. Ali, amarradas com um caprichado laco de fita, estavam duas reluzentes colherzinhas, devidamente encaixadas.
A campainha voltou a soar. Ela correu para abri-la. Sabia que a felicidade estava chegando.

Moacyr Sciliar escreve nesta coluna, as segundas feiras, um texto de ficcão baseado em notícias publicadas no jornal (Folha de são Paulo 22/11/2010)

Nossa música

Busco uma melodia
para nos envolver
Uma melodia apenas
com ausência de letra
Quero buscar as palavras
ouvindo o teu olhar
Quero que minha pele
dance com a tua
e ao se enlaçarem, livres
com os lábios silenciados
pelo êxtase do sentir
eu compreenda as palavras
que percorrem
todo o meu corpo
Busco ir além das palavras
e sei que podes me levar
e quero ir contigo
Busco encontrar a letra
da nossa melodia
num lugar
além de tudo que é tocável
Quero te respirar
aonde quer que esteja
e deixar fluir
para dentro do meu ser
as palavras da nossa música

segunda-feira, 21 de março de 2011

Pés

Pés by Ana Paula Amaral
Pés a photo by Ana Paula Amaral on Flickr.


Lá no blog da Maria todo dia há uma postagem linda que fala da liberdade desse lindos pezinhos.
É poético.
Pensei então em fazer alguma coisa por aqui.
Algo também poético.
Mas não consegui.
Fica difícil fazer poesia diante deste fato:






Aqui a coisa está mais pra libertinagem!
Não pensem que aquele sabão do "porque se sujar faz bem"
Consegue fazer qualquer coisa nesta situação.
Não.
Isso aqui exige é muito esfrega-esfrega
Na base do trabalho manual mesmo.
E me  sobra pouca inspiração para escrever...
Ah! Mas como se canta:
"Não me leve ao pé da letra"












Olhem bem para o sombreado do pé.
Mas com esta gargalhada cheia
de vivacidade dá para ficar de mau humor?


E quando está um silêncio estranho em casa
Eu vou em busca de saber o que está se passando:
- Mãe eu tô tirando fotos dos meus pés!









É extasiante ver esses pezinhos
ganhando asas
ensaiando os primeiros passos
para ganhar o mundo!


Amo os pezinhos da minha vida!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Meu filho e o amor

Meu filho Bernardo tem oito anos e ele convive na escola com crianças mais velhas do que ele. O que antes para mim era receoso, tem se mostrado uma aventura deliciosa ao lado deste pequeno jovem-velho!
Grande parte de sua turma, em idade de dez, onze anos, comeca a entrar na puberdade, comecam a descobrir sentimentos, e o Bernardo está nessa!
Não fico incentivando, ou comentando sobre meninas, namoradas. Mas, tem umas duas semanas que ele tem me perguntado o que eu achava que as meninas gostavam num garoto.
De pronto respondi: "Ah! Elas devem gostar de um garoto que escreva poemas, poesias, enfim palavras bonitas".
Resposta: Eu não sou desses, não sou de escrever poemas. Essa coisa de escrever, de blog é para meninas.
Não desisti e mostri-lhe um blog masculino, se era isto que ele queria. Lemos juntos o "Monica e seu endereco"lá do menino das goiabas verdes. E no meio da leitura ele me pergunta - será que ele vai encontrá-la? Muito bem, estava interessado.
Passados alguns dias... eis o Bernardo no chão, rodeado de pequenos papéis escrevendo um poema!
Um poema de amor, que pedi autorizacão para postar aqui.

O amor é a paz
é ser feliz
sorrir e chorar
ficar alegre
A paz e o amor
servem para isto
ser feliz

Há um mês, ele vinha se mostrando preocupado com um amigo, porque o amigo estava apaixonado e como não era correspondido, chorava sozinho à noite.
"Mãe, não gosto de ver meu amigo assim triste, eu até já vi ele chorando"


É meu, filho, você mesmo escreveu: sorrir e chorar... Assim é o amor.
Eu vejo docura nesta fase, eu vejo encantamento.
E quero encerrar sobre esse caminho onde eles comecam a trilhar os primeiros passos, deixando um vídeo que acabei de descobrir, que é exatamente o que meu filho, seus amigos e amigas comecam a sentir.
Apaixonante!


Vida poética de passarinhos

Depois da última postagem, em que duas amigas queridas, citaram como seu canto predileto o do uirapuru, via internet, ouvi seu canto, busquei por imagens. É realmente lindo.
Encontrei também um poema, num livreto meu já amarelado, que passou por longo período sonolento, e agora tem andado insone, um lindo poema que fala de pássaros, fala de gaiolas, talvez fale também de gaiolas que existam na vida...



O pássaro domesticado vivia na gaiola, e o pássaro livre na floresta. Mas o destino deles era se encontrarem, e a hora finalmente havia chegado.


O pássaro livre cantou: "Meu amor, voemos para o bosque". O pássaro preso sussurrou: "Vem cá, e vamos juntos nesta gaiola". O pássaro livre respondeu: "Entre as grades não há espaço para abrir as asas". "Ah", lamentou o pássaro engaiolado - "no céu eu não saberia onde pousar".


O pássaro livre cantou: "Amor querido, canta as canções do campo". O pássaro preso respondeu: "Fica junto comigo, e te ensinarei as palavras dos sábios". O pássaro da floresta retrucou: "Não, não! As canções não podem ser ensinadas!"


E o pássaro engaiolado gemeu: "Ai de mim! Eu não conheço as canções do campo".


Entre eles o amor era sem limites, mas eles não podiam voar asa com asa.
Olhavam-se através das grades da gaiola, mas em vão desejavam se conhecer. Batiam as asas ansiosamente, e cantavam: "Chega mais perto, meu amor". Mas o pássaro livre dizia: "Não posso. Tenho medo da tua gaiola com portas fechadas". e o pássaro engaiolado sussurrava: "Ai de mim! As minhas asas ficaram fracas e morreram".


                                                                      Tagore, poeta indiano nascido em 1861.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Observação de aves

Carolina Wren by ianthes

Carolina Wren a photo by ianthes on Flickr.
O último lugar do Brasil que eu listaria para haver um  Encontro Brasileiro de Observacao de Aves  seria a capital de São Paulo! Bem talvez seja porque eu não entendo nada a respeito, ou porque esta cidade tem concreto demais, mas o fato é que eu realmente me surpreendi por este encontro, que é o sexto, ocorrer por aqui, no parque Villa Lobos.
Admiro os fotógrafos de aves, os imitadores dos cantos dos pássaros, já soube que há especialistas em bioacústica, enfim seja profissional ou por hobby deve ser delicioso viver neste meio.
Claro que também me lembrei de quem transforma o canto dos pássaros em lindo artesanato ou ao ouví-los, imediatamente a caneta sai transliterando sons em poesia.
Agora pensando melhor, será ótimo ter esse evento aqui na capital. Com certeza ela se encherá de cores, sons e pessoas alegres.
Vai dizer que um canto de pássaro não te deixa alegre?!

sábado, 12 de março de 2011

Hora do Planeta

CRW_3293-01 by Javier Sales (Sansara)
CRW_3293-01 a photo by Javier Sales (Sansara) on Flickr.
26 de marco de 2011 - Hora do Planeta.
Acredito que os noticiários das últimas horas nos faz de alguma maneira refletir.
São Lourenço do Sul, Japão, Paraná, São Carlos, para citar o que ouvi.
Essa iniciativa então de uma hora com as luzes apagadas vem num momento triste, porém urgente.
Programem-se, preparem-se. 60 minutos em silencio, ou trocas, ou pensamentos ou desejos.
"No próximo dia 26 de marco, milhões de pessoas e milhares de cidades em todo o mundo vão apagar as luzes de suas casas, apartamentos, empresas e monumentos durante uma hora.
Algumas delas poderão imaginar que o gesto visa economizar energia. A maioria no entanto, tem consciência de que o movimento comandado pela Rede WWF representa uma preocupação contra as mudancas climáticas no planeta, em especial, o aquecimento global"
Hora do Planeta : dia 26 de marco das 20h30 às 21h 30

sexta-feira, 11 de março de 2011

Anta laranja

Recebi um e-mail da dona de um blog que eu sigo dizendo que ela gosta dos meus comentários, mas queria também que eu a seguisse. Era um convite gentil.
Pois bem, vou esclarecer o que se passa comigo.
Quem acessa o blog, pode ver a foto do perfil, eu com as crianças . Quando comento, também aparece essa mesma foto. O dilema surge quando eu sigo um blog. E todos nos quais eu comento, sou seguidora.
Quando eu resolvo seguir um blog, imediatamente aparece a foto de uma anta laranja. Sou eu.
A anta laranja, que se vocês olharem com atenção, está lá nas miniaturas dos seguidores é a mesma pessoa deste blog.
Dediquei uma tarde inteira a deixar de seguir todos os meus blogs favoritos, editar, reeditar fotos do perfil e... nada muda, a anta permanece.
Sou tão a favor de preservação das espécies, que acho que é esse o motivo que não consigo afugentá-la!
Nessa tarde em que deixei de seguir para depois seguir um a um novamente, minha pequena Júlia, vendo a minha aflição, quis saber o que se passava e quando lhe expliquei, ela disse:
- Ai! Isso não é nada bom. Eu que não queria uma pessoa disfarçada de anta laranja seguindo o meu blog.
Bom, é uma anta que lê os posts, escreve... mas a Júlia tem razão: ninguém há de querer uma anta, ainda que laranja seguindo seu blog!
Solicitei ajuda a uma amiga, mas o problema persiste!
O jeito que encontrei de remediar a situação, enquanto não consigo trocar a imagem, foi esclarecer de uma vez esse mal entendido de imagens. Beijos

quinta-feira, 10 de março de 2011

Excessos

 by (anna paula)
a photo by (anna paula) on Flickr.
Minha amiga mostrou-me um e-mail que recebeu. Estava escrito: você estava linda na terça.
Exatamente assim, com estes caracteres.
Conversamos demoradamente sobre o assunto que envolvia aquela mensagem e eu fiquei com a tela do notebook e aquelas palavras ali soltas, mas pensando num contexto completamente diferente daquele que havíamos conversado.
Queria escrever, mas não encontrava um bom começo, na verdade não estava conseguindo dar forma ao que eu queria falar.
Foi quando li um post, belo, lá no o menino das goiabas verdes, soube então o que eu queria escrever. O post do Marcílio é  tão emocionante, que merece ser apreciado.

Tenho receio de perder o entendimento do universo das palavras.
Passei por tantas gírias da moda, expressões regionais, algumas incorporadas, outras esquecidas, sem sentido.
E agora a linguagem da internet, das mensagens nos celulares que se tornou tão excessiva, que não basta dizer eu te amo, tem que multiplicar a letra "o"não sei quantas vezes. Não basta um beijo, tem que ser mil ou tem que ser dado no coração. Eu uso essa linguagem e por isto ao ler o que minha amiga recebeu, sem ser lindaaaa de+++ pairou no ar esta pergunta para mim. Será que eu ainda consigo entender, ou melhor, sentir uma mensagem assim sem excessos? Sem tantas vogais repetidas, sem tantas exclamações...
Talvez nem seja tanto excesso de letras e sinais, mas excessos em mim mesma como tão bem disse o menino das goiabas verdes.

terça-feira, 8 de março de 2011

Vovó Tiana

Vovó Tiana by Ana Paula Amaral
Vovó Tiana a photo by Ana Paula Amaral on Flickr.
Ela tem um luxo. Não gosta de ser chamada de vovó. É a madrinha Tiana. Ensinou todos os netos a chamá-la assim. Não conheceu fraldas descartáveis, nem máquina de lavar roupas. Mulher de fé. Nunca leu a bíblia porque a ela seu pai não concedeu a possibilidade de conhecer as letras. Tinha medo que escrevesse cartas ao namorado. Coisas de uma época, difícil para nós entendermos. E quando eu pergunto, se guardou alguma mágoa do pai por este fato, sou surpreendida por um "não", sempre amou, sempre teve um carinho imenso por este pai.
Sua fé lhe permitiu viver tristezas profundas, alegrias intensas. Carrega uma sabedoria de vida capaz de transformar uma lágrima em sorriso.
Mulher que ensinou meu filho o que é a felicidade. Sem dizer uma só palavra.
Quando Bernardo achava que a solução para trazer felicidade às pessoas era dar-lhes uma bela casa próximo a um shopping e muito dinheiro, refletimos juntos sobre isso e eu perguntei:
E a Tiana, seria feliz se tivesse o mais luxuoso apartamento por aqui, com uma vista linda?
"Não, ela gosta de dar milho para as galinhas"
Pronto, aprendeu o que é ser feliz.
Mulher linda que trouxe ao mundo o pai de meus filhos. Um homem que traz em si toda a sabedoria, a fé e o amor que recebe a cada instante da sua Tiana.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Fronteiras



Como conseguiste diluir minhas fronteiras
assim com tamanha delicadeza
que eu não percebi?

Havia a fronteira da sonolência
que se aninhava em meus olhos
e a vigília das estrelas
na noite escura
E agora não mais sei
se durmo ou estou desperta
quando tu chegas


Enquanto eu pisava nas folhas
amareladas pelo outono
você caminhava por entre flores
inalando o início da primavera
O que aconteceu com a distância
dos continentes que nos separava
se te sinto ao meu lado
aconchegada pelo teu calor?

A minha pele era um escudo
E agora se funde na tua
assim, tão simplesmente assim

Havia o pensar
meu pensar estava imundado
por perguntas esperando respostas
As perguntas findaram
não anseio pelas respostas

E os marcadores do tempo?
O relógio, o calendário
a minha idade que me dizia
o tempo disto já passou
Tu me mostraste a existência
O tempo não cabe nela

Eu acreditava fazer poesias
Buscava com esforço a inspiração
na vida
Minha vida agora é uma eterna poesia

Não há mais fronteiras
em nosso olhar
nos nossos lábios
Agora existimos
simplesmente existimos

quinta-feira, 3 de março de 2011

Pasta de dente




PASTA DE DENTE


Ultimamente, pasta de dente é um item que tem figurado nas minhas listas de compras com uma frequencia assustadora.
Sim, e eu disse listas no plural mesmo. Porque está na lista do mercado, mas também tem aparecido na lista da feira e esses dias apareceu no lembrete no meu caminho do cinema.
Fiquei apreensiva de esquecer, que comprei o ingresso e como tinha algum tempo, corri para comprá-la. Esqueci foi da pipoca...
Escrevi, num momento desses, de fase de transição, um texto tão visceral onde eu expunha toda a minha solidão de “sem namorado”no fato da pasta de dente demorar a acabar.
Lamento não ter mais o texto. Ele exprimia a dor de estar sozinha em não ter ninguém para dividir a pasta de dente, não me importava se essa pessoa apertaria o tubo em baixo ou talvez na parte de cima. Eu queria é alguém para usar a pasta comigo.
E agora, que ironia do destino! Ela acaba a todo momento.
As explicacões passam por simônimos e antônimos:
-Mãe, esta pasta é tão mole, que cai tudo na hora que vai colocar na escova;
-Mãe, esta pasta estava tão dura, que eu tive que apertar forte e daí saiu muito.
A pia parece uma paleta de pintor, com aquelas minhocas coloridas.
Bem, se encontrasse o meu texto, teria que acrescentar no final: tenha criancas em casa; sua pasta de dentes nunca mais vai demorar a acabar! 

terça-feira, 1 de março de 2011

O livreiro

Remexendo em guardados, encontrei umas folhas soltas onde eu havia copiado textos que a época tinha um significado.
Curiosamente, esses dias eu estava conversando com meu filho Bernardo sobre profissões extintas ou quase.
Falamos dos barbeiros, profissão que foi do meu pai, lembramos dos sapateiros, alfaiates e eu falei para ele do livreiro.
Lembrava quando na minha infância, meu pai me levava com ele a uma livraria. Pequena, abarrotada e lá havia o livreiro. Meu pai conversava com ele demoradamente, e eu sinceramente achava que depois da conversa nem era preciso comprar o livro!
Admirável alguém que sabia da vida de praticamente todos aqueles livros.
Encontrei esse texto de Monteiro Lobato que transcrevo lembrando dos livreiros.


O livreiro


Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem à nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido.
O pão diz ao homem: ou me compras ou morre de fome. O batom diz à mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos.
Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque o próprio da ignorância é sentir-se feliz em si mesma, como o porco em sua lama. E, pois, o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.
Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro.
E é graças a essa generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde.
Suprima-se o livreiro e estará morto o livro - e com a morte do livro retrocederemos à idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre.
A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpétua, a trêmula chamazinha da cultura